Quem somos

Este blog tem o objetivo de publicar a produção de textos dos alunos das turmas de Laboratório de Jornalismo Impresso, PUC-Rio, 2012.2.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

São Januário deve abrigar o rugby em 2016


Victor Belart

O estádio de São Januário sofrerá uma grande reforma para sediar - em 2016 - as disputas de um jogo com origem inglesa e praticado sobre a grama. Bola, chuteiras e meiões completam o cenário das partidas. Se os elementos indicam um esporte no qual  o Brasil é pentacampeão,  na prática, o rugby  nacional jamais chegou a disputar uma Copa do Mundo. Amadorismo e desconhecimento do grande público marcam o cenário da modalidade responsável por uma das obras de maior investimento entre as sedes para 2016.
A disputa do rugby nas Olimpíadas era comum no início do século XX. O esporte figurou nos jogos de 1900 a 1924.  A modalidade deixou de participar da festa pelo então baixo índice de seleções inscritas no torneio. Paralelamente aos Jogos Olímpicos, o rugby passou a se desenvolver mundialmente de forma lenta. Só em 1987 foi disputada a primeira Copa do Mundo, mais de 100 anos depois do esporte ter sido criado.
Numa forma semelhante ao que acontece no futebol com Brasil e Argentina, o rugby é dominado por potencias europeias, mas divide espaço com os dois maiores países de um continente no hemisfério sul. Austrália e Nova Zelândia, que têm seleções pífias no futebol, são verdadeiras potências do rugby. Os dois países foram, inclusive, sede dupla do Mundial de 1987. A partir desse primeiro torneio, o rugby passou a se desenvolver ao redor do planeta de maneira mais integrada. O Campeonato Mundial ganhou força  nas últimas décadas e atualmente os marcadores de audiência do torneio só ficam atrás da Copa Mundo de Futebol e das Olimpíadas.
Impressionados com a força recente do rugby, os dirigentes do COI passaram a repensar a inclusão do esporte nos Jogos Olímpicos. Com a saída do beisebol e do softbol , alguns membros da Federação   tentaram incluir o rugby no evento.  Depois de derrotado na primeira votação, o rugby conseguiu em 2009, o aval dos dirigentes do COI para retornar às Olimpíadas. A reestreia do jogo está marcada para 2016, numa cidade sem a menor tradição e interesse pelo esporte.
A confirmação do retorno Olímpico do  rugby se deu no mesmo ano em que o Rio foi escolhido como cidade sede dos Jogos. Como o esporte ainda não estava solidamente confirmado para 2016, o projeto de logística para realização das partidas de rugby naquele momento não passou de coadjuvante. A partir daí, a discussão sobre quem abrigaria o rugby no Rio passou a se dividir entre o Estádio Olímpico, que já seria reformado para os Jogos, e São Januário, octogenário estádio do Vasco.
Oficialmente, o rugby ainda não tem casa definida pelo COI para 2016. Vascaíno assumido, o prefeito Eduardo Paes nunca escondeu o interesse de que a arena cruzmaltina abrigasse o esporte. Apesar de ainda não ter sido confirmada pelo Comitê Internacional, a escolha de São Januário como sede do esporte parece encaminhada. De olho na visibilidade e em possíveis melhorias para seu estádio de futebol, o Vasco sempre se mostrou a favor da realização dos jogos de rugby em sua casa. Sem tradição nenhuma no esporte, o clube montou inclusive um projeto de preparação para jovens atletas visando as Olimpíadas.
Além do Vasco, outros clubes de futebol como Corinthians e Portuguesa, junto de clubes de pequeno porte como Alecrim e Galícia já apoiam o rugby. Apesar de fãs e patrocinadores defenderem que o rugby vem tendo um crescimento estratosférico no Brasil, na prática o esporte ainda não tem uma liga integrada. O país nunca participou de Copa do Mundo no esporte e brigará pela primeira vaga em Londres 2015. A realização do mundial na capital inglesa pode servir como compensação para os britânicos frustrados com a ausência do esporte nas Olimpíadas desse ano.
O retorno do Rugby aos Jogos Olímpicos foi confirmado justamente quando Londres se preparava para sedear as Olimpíadas. Com isso, os ingleses sugeriram a inserção da modalidade já em Londres 2012 como esporte de demonstração. A proposta levada ao COI motivou os organizadores britânicos, que construíram seu EstádioOlímpico para 80 mil pessoas esperando um uso constante e divisão de atividades entre atletismo, rugby e futebol. O COI vetou a participação demonstrativa do esporte em Londres.  Como os clubes londrinos de futebol já possuem estádios próprios, a arena Olímpica pode se transformar num caso clássico de elefante branco. Para evitar que o estádio não caia no desuso, as autoridades britânicas já buscam estimular a realização de partidas de rugby no estádio.
Assim como ocorre em Londres, a casa do rugby em 2016 abrigará o esporte através de incentivo das autoridades locais. Em 114 anos de existência, o Clube de Regatas Vasco da Gama nunca havia investido na modalidade antes da possibilidade de reforma em seu estádio para receber o rugby olímpico. Motivado pela realização dos jogos em São Januário - e agora já preocupado em ter o rugby em suas divisões de base - o Vasco enviou, em outubro, representantes a Londres para esclarecer dúvidas sobre o esporte e melhorar a estrutura de São Januário para receber o rugby.
Diferente da recém-construída Arena Olímpica de Londres, São Januário é um dos estádios mais antigos do Brasil. Construído por comerciantes portugueses na década de 1920, o estádio teve seu auge na Era Vargas, quando o presidente populista discursava das sociais e era ovacionado por brasileiros agradecidos pelas leis trabalhistas. Em 2000, o estádio protagonizou um vexame nacional quando seu alambrado desabou por conta da superlotação em plena final de Campeonato Brasileiro.
Em Londres, o estádio Olímpico, que seria casa do Rugby, foi construído dentro do parque Olímpico da cidade. No Brasil, se consolidado em São Januário, o tradicional esporte inglês será vizinho da comunidade Barreira do Vasco, que tem cerca de 2 mil habitantes estimados . Apelidada com o nome clube vizinho, a comunidade no coração do bairro imperial de São Cristóvão está ameaçada  pelas remoções urbanas para 2016. Graças ao rugby em São Januário, a Secretaria de Habitação da Prefeitura já concebe a possibilidade de reassentamento de algumas moradias na região. Se seguir os moldes do que vem sendo a estratégia de reordenação urbana do Rio, a brutalidade do rugby como esporte de contato pode ser usada ao pé da letra, de uma forma bem menos amistosa do que os Jogos Olímpicos dizem ser.