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Este blog tem o objetivo de publicar a produção de textos dos alunos das turmas de Laboratório de Jornalismo Impresso, PUC-Rio, 2012.2.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Saga do Golfe

Georgia Gomide

Escolhido pelo Concurso Nacional de Projetos de arquitetura, do IAB-RJ, o projeto vencedor da nova sede do campo de golfe dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016 dos arquitetos Pedro Évora e Pedro Rivera, sócios do escritório Rua Arquitetos. Eles foram os escolhidos entre 56 participantes para executar o projeto que contará com uma área social com restaurante e bar, vestiários, loja, estrutura de administração, varanda com vista sobre o campo e espaço destinado a eventos. Ex-alunos da UFRJ, ambos têm menos de 15 anos de formado, como previa o regulamento do concurso, cujo objetivo era atrair a participação de jovens arquitetos.

Projeto vencedor
Foto: Divulgação IAB

O custo da obra, que ainda não foi divulgado, será pago pelo empresário Pasquale Mauro e a construtora Cyrella, os donos do terreno. Já a execução do projeto será atribuição do escritório americano Gil Hanse Golf Course Design, escolhida em março pelo comitê da Rio 2016. Segundo um dos autores do projeto, Pedro Évora, a obra levará cerca de oito meses para ser concluída e deverá ser iniciada em no máximo três meses.
Outra questão que deve enfrentar barreiras na Justiça é o fato de membro licenciados da direção do IAB terem sido autorizados a participar do concurso. Esse problema já apareceu na licitação para as obras do Porto Olímpico. Em maio, a Justiça concedeu liminar ao Ministério Público Estadual obrigando a prefeitura do Rio a anular o concurso para o projeto, vencido por um membro do conselho deliberativo do IAB-RJ (Instituto dos Arquitetos do Brasil), um dos responsáveis pela licitação. 







Favela Vila Autódromo: manter ou remover?

Lúcio Oliveira

De todas as obras das Olimpíadas do Rio 2016, uma das mais polêmicas é a remoção da favela Vila Autódromo, às margens da lagoa de Jacarepaguá, bem próximo ao local onde a Vila Olímpica está sendo construída. Não há projeto de instalações esportivas na área. O motivo apontado pela prefeitura para a remoção é o trajeto da via expressa Transcarioca, um dos principais corredores viários que estão sendo construídos na cidade. A comunidade tem atualmente cerca de mil moradores e é uma antiga colônia de pescadores que virou favela no final dos anos 1970. A proposta vencedora do concurso apresentado pela Parceria Público-Privada responsável pelas obras previa a manutenção da favela, mas uma brecha burocrática em um artigo permitiu a alteração no projeto final e o texto foi reescrito a favor da remoção.

Imagem de satélite da Vila Autódromo (Fonte: Google Earth) 
A prefeitura garante que vai reassentar todos os moradores para outra localidade, a cerca de um quilômetro do local, em um novo conjunto habitacional construído pelo programa do Governo Federal “Minha Casa, Minha Vida”, batizado de Residencial Parque Carioca, próximo à Estrada dos Bandeirantes, no Recreio. O secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar, afirma que as famílias serão reassentadas somente quando o conjunto estiver pronto e que as que não desejarem a transferência serão indenizadas de acordo com uma avaliação dos imóveis feita pela própria prefeitura.

A rota da Transcarioca sofreria um desvio justamente para passar por cima da favela (como pode ser visto no vídeo abaixo). Outro ponto conflitante do projeto é que grande parte das famílias residentes na Vila Autódromo já foram reassentados pelo poder público na área há cerca de quarenta anos, vindas de outra favela: a Cardoso Fontes, de Jacarepaguá. Desde 1993 a prefeitura do Rio de Janeiro move ação para a remoção, mas apenas em fevereiro deste ano a Justiça autorizou em primeira instância uma retirada parcial da favela, que vale apenas para as casas com distância de até 25 metros da Lagoa de Jacarepaguá, por motivos ambientais. A comunidade também foi vítima de brigas políticas nos anos 1990. Em sua segunda passagem pelo Palácio Guanabara (1991-1994), o ex-governador Leonel Brizola distribuiu títulos de posse provisórios de 30 anos aos moradores. Já seu rival Cesar Maia, ao assumir a prefeitura pela primeira vez, em 1993, decidiu remover as maiores favelas da região, argumentando danos ambientais. No caso da Vila Autódromo, a prefeitura entrou na Justiça. Em 1996, em meio à discussão do caso na Justiça, o governador Marcello Alencar renovou os títulos de posse provisórios, por 99 anos.

“Nós temos esse título dado pelo governador do estado, Leonel Brizola. Esse título tem a validade de 30 anos. Ele foi dado em 1992. E aí o que aconteceu: outro governador fez uma retificação desse título, passando de 30 anos para 99 anos. Eles teriam que respeitar o título”, declarou o presidente da Associação dos Moradores e Pescadores da Vila Autódromo, Altair Guimarães à Agência Brasil.

No último dia 16, moradores da Vila Autódromo, no Rio de Janeiro, entregaram ao prefeito Eduardo Paes uma proposta de urbanização que argumenta não haver incompatibilidade entre a construção do futuro Parque Olímpico do Rio, a existência da comunidade, e a preservação ambiental. Conhecido como “Plano Popular da Vila Autódromo”, o projeto foi desenvolvido numa parceria entre a Associação de Moradores da comunidade e professores e alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). No processo de elaboração foram realizadas oficinas, assembleias e diversas reuniões com os moradores.

As questões ambientais, muito usadas como argumento para a remoção da comunidade, também foram incluídas no plano, que prevê, entre outras coisas, uma área de recuperação ambiental na margem da lagoa. Com relação aos serviços públicos, o plano propõe a inclusão da comunidade no programa Saúde da Família e a construção de uma creche e de uma escola municipal. Também foi planejada a criação de novas áreas de esporte e lazer. A recuperação da área é bem mais barata que a criação do conjunto habitacional: enquanto a proposta da comunidade está orçada em R$ 13 milhões, a da Prefeitura custa R$ 38 milhões.

Um dos motivos apontados pelos críticos do projeto da prefeitura, como a urbanista Raquel Rolnik, é o interesse imobiliário do local, o que poderia trazer lucro tanto à prefeitura como às empreiteiras e construtoras envolvidas no projeto olímpico após a realização dos jogos. Um manifesto da associação de moradores publicado é enfático na acusação dessas relações: “Desde o anúncio da realização da Copa e das Olimpíadas no Brasil, os moradores da Vila Autódromo se tornaram alvo de ameaças de remoção. Não é a primeira vez. Esta comunidade está situada em zona que, com o processo de expansão da cidade, tornou-se alvo da cobiça de especuladores e grandes construtoras. Seus moradores aprenderam a resistir, afirmando seu direito à moradia diante do poder do mercado imobiliário aliado aos sucessivos governos. Em mais uma tentativa, apresentou um projeto viário, alterando a rota da Transcarioca já em obras (e com várias irregularidades no licenciamento ambiental), somente para passar por cima da comunidade. Com a mudança constante de pretextos, a Prefeitura pretende legitimar a remoção de 500 famílias, e a cessão, para o consórcio privado Odebrecht-Andrade Gutierres-Carvalho Hosken, de uma área de 1,18milhões de m2, dos quais 75% serão destinados à construção de condomínios de alta renda”.

A favela também virou tema da campanha política na corrida para a prefeitura carioca deste ano. O candidato Marcelo Freixo, do PSOL, afirma que nada explica os altos gastos da prefeitura: “Só o terreno para onde a Prefeitura pretende remover a comunidade — a um quilômetro de distância de onde as famílias vivem hoje — custou R$ 20 milhões.”, disse o deputado estadual no começo do ano. Denúncias veiculadas pela imprensa fizeram a Prefeitura do Rio cancelar a compra do terreno anteriormente escolhido para o Residencial Parque Carioca, que pertencia à empresa controlada por doadores de campanha do prefeito Eduardo Paes. A decisão foi tomada depois que o jornal O Estado de S. Paulo revelou que a área comprada por R$ 19,9 milhões era de propriedade da Tibouchina Empreendimentos, empresa controlada pela Rossi Residencial e pela PDG Realty - incorporadoras que doaram R$ 245 mil para Paes em 2008, então candidato a prefeito e ao seu chefe de gabinete, Luiz Antonio Guaraná, e, nas eleições de 2010, a alguns de seus atuais secretários.

Consultada pela AFP, a prefeitura explicou que a razão do desalojamento é que “dois terços da comunidade estão em uma área de preservação ambiental” e que “a maior parte dos moradores não tem acesso a saneamento básico e vive em condições precárias e insalubres”. Eduardo Paes, às vésperas das eleições, evita falar sobre o tema e diz que não vai usar a força e que a palavra remoção é “muito forte”. O prefeito explica que vai apontar alternativas para mostrar que é possível sair de uma área irregular em degradação ambiental.

Veja no vídeo o desvio na rota da Transcarioca na área ocupada pela Favela Vila Autódromo (a partir de 1m17s).




    

Como as Olimpíadas submetem a cidade às empresas

Victor Belart



É comum que atividades esportivas deem origem a jargões de celebração e pacificidade. O mais famoso deles é uma frase tradicional e igualitária: o importante é competir.  Atualmente, esse espírito competitivo das Olimpíadas é associado aos jogos de uma maneira um pouco menos inocente. A marca dos anéis Olímpicos as cidades, , competem umas contra as outras por investimentos privados e turísticos. Ser cidade sede de uma Olimpíada, portanto, dá a cidade um status de grife. Enquanto isso, remoções, legislações quebradas e investimentos desiguais marcam as prioridades da gestão pública diante do megaevento; e outras necessidades estruturais como saúde e educação continuam no segundo plano das atenções.

“Chinelada na paulistada”, disse em tom irônico o prefeito Eduardo Paes em 2010 sobre a escolha do Rio como sede da final da Copa. A declaração está disponível no Youtube e - apesar de polêmico - esse espírito competitivo entre metrópoles tem se mostrado comum atualmente. Desde meados da década de 1990, as principais metrópoles brasileiras passaram a seguir uma tendência global de cidade-mercado. Nessa ordem, o espaço público não se sustenta pelo bem estar de seus cidadãos, e sim pela necessidade da metrópole de se tornar competitiva diante das outras. O neoliberalismo estabelece que empresas estejam acima de qualquer intervenção do Estado na ordem do mercado, e é nessa lógica que funciona a metrópole pós-moderna. 

Urbanista e professor da UFRJ, Carlos Vainer é um militante de uma Olimpíada responsável. Especialista na organização urbana de grandes cidades há mais de duas décadas, Vainer analisava o Rio neoliberal desde antes de qualquer evento esportivo. Quando a Final da Copa e as Olimpíadas se confirmaram na cidade, o urbanista já tinha um acervo de estudos sobre o quadro de um megaevento. Em dezenas de vídeos com entrevistas e palestras disponíveisna internet, Vainer apresenta sua visão crítica à organização dos megaeventos. Segundo ele, uma cidade que segue a lógica do mercado se comporta como empresa e se utiliza dos eventos como janelas de oportunidade para atrair a atenção da iniciativa privada. Nessa linha, a cidade passa a favorecer a especulação imobiliária. Em troca, as obras realizadas dão a cidade uma aparência positiva e visibilidade internacional.

Além de empreiteiras e demais empresas responsáveis pela organização dos jogos, no caso das Olimpíadas e da Copa, o Comitê Olímpico Internacional e a Fifa recebem subsídios. que ultrapassam o poder da legislação. Com regulamento próprio, os órgãos esportivos impõem suas próprias regras diante da legislação brasileira. Na Copa do Mundo, por exemplo, a venda de bebidas alcoólica em estádios deve ser liberada, o que contraria uma lei federal. Além de estabelecer o que é vendido ou não nas redondezas e no interior de praças esportivas, esses órgãos gerenciais impõem a escolha da marca e dos vendedores credenciados a vender esses produtos. Dessa forma, um cidadão comum, acostumado a trabalhar como ambulante em determinada área da cidade, tem seu ofício  condicionado à vontade e a gestão de um governante que ele não elegeu.

 Os deputados e senadores – aí sim, eleitos pela população – têm opinião controversa em relação à realização dos megaeventos. No caso do Rio de Janeiro há o chamado governo de coalizão, onde partidos não fazem oposição significativa ao partido chefe. Dessa forma, o poder federal se alia ao município e ao estado. Como a maioria da bancada de deputados é também aliada ao governo de situação nas esferas federais e estaduais da Câmara, pouco se discute a legitimidade da realização de um megaevento. Segundo Vainer, em uma de suas entrevistas na internet, a crítica interna passa a ser um obstáculo na competitividade da cidade, mas ainda assim, a falta de oposição se converte em guerra no interior da própria federação, com estados disputando poder político e investimentos. Essa disputa ficou marcada, por exemplo, quando o governador Sérgio Cabral liderou uma campanha que mobilizou toda a população fluminense em defesa de royalties de petróleo.

A unanimidade no governo de coalizão só não se configura pela atuação de poucos deputados como, por exemplo, o ex-jogador Romário. Em seu primeiro mandato como deputado federal pelo PSB, Romário é um símbolo de oposição ao festejo exacerbado das Olimpíadas. Essa semana, por exemplo, o baixinho fez duras críticas ao presidente do COB, Carlos Artur Nuzman, ao dizer que “pessoas como Nuzman deveriam ser banidas do esporte.” Em relação à flexibilidade da legislação diante do COI e da Fifa, Romário afirmou esse ano em sessão do plenário que a Fifa está montando um estado dentro do próprio Estado brasileiro.

Alheio às críticas, o Comitê Organizador dos jogos investe em marketing para fortalecer sua imagem. Em resposta às acusações de Romário, Nuzman convocou uma coletiva e afirmou que os ataques do artilheiro não tem embasamento e provas. No filme de divulgação das Olimpíadas na página do COB, o Rio de Janeiro é apresentado como cidade perfeita, ideal para se viver e investir. As áreas pobres da cidade são escondidas, fazendo com que o Rio mostrado ao mundo seja apenas aquele que convém ao melhor investimento. Para Vainer, essa é a lógica  que esconde o lado da cidade não adequado à venda.

Desde pequenas retaliações como os tapumes da LinhaVermelha a remoções, a Prefeitura esconde o lado pobre da cidade. Essa prática de remoções e relocações urbanas é comum quando megaeventos são realizados em cidades marcadas pela desigualdade social. Na África do Sul, por exemplo, milhares de moradores foram relocados de regiões centrais para viver em containers. No PAN de 2007, por exemplo, a Prefeitura tentou remover a comunidade Vila Autódromo, próxima a sedes dos jogos, alegando irregularidades que vão desde falta de segurança ao esgoto despejado. Apesar de ter resistido e provado legitimidade em seu respectivo espaço, novamente a Vila Autódromo é alvo de críticas e tentativas de remoções. 

Na internet, é comum a militância através de filmes e textos que denunciam os abusos de poder em remoções urbanas e transferências de moradias por motivos estéticos. Em 2011 foi criado o Portal Popular da Copa, um espaço de militância que faz paródia do Portal da Copa, site oficial do Comitê Organizador, e promete fiscalizar o andamento das obras. Paralelo a isso, enquanto cariocas brigam pelo direito de viver onde já vivem, turistas que comprarem bilhetes para os jogos recebem visto brasileiro gratuito sem passar por qualquer processo de imigração.

Novo modelo de coleta de lixo para o centro do Rio

Sarah Bazin

Novas lixeiras já instaladas no centro do Rio
Foto: Divulgação Prefeitura do Rio de Janeiro

A obra do Porto Maravilha, no centro da cidade do Rio de Janeiro, traz uma novidade para a questão da coleta de lixo. Inspirado no sistema adotado na cidade de Portimão, em Portugal, o projeto é baseado no principio de depósitos que ficam embaixo da terra. Isso faz com que os dejetos saiam do alcance do olhar e diminua o risco de doenças causadas pelo lixo e por animais como ratos e baratas.


Serão 42 containers, 21 para lixo orgânico e 21 para reciclável, que vão ficar em dupla nas calçadas das ruas do centro. O lixo já deve ser posto separado nas lixeiras, e ficará ali até que o depósito subterrâneo esteja cheio e o caminhão de lixo venha retirar. Cada contêiner tem capacidade para três mil litros de material, 12 vezes mais do que as lixeiras de ruas usadas atualmente.

O processo de retirada é simples, o contêiner é acoplado à caçamba do caminhão e içado. Essa forma faz com que o gari não precise entrar em contato direto com o lixo, melhorando a sua qualidade de trabalho e de vida. A coleta dos contêineres poderá ser feita a cada três dias, segundo pesquisa feita pela prefeitura.

Ao contrário do que acontece em Portimão, a coleta no Rio de Janeiro terá apenas duas entradas: a orgânica e a reciclável. A portuguesa também separa o reciclável em plástico, vidro e papel. Essa diferença pode ser atribuída ao tipo de trabalho de coleta seletiva que se tem no Rio. A prefeitura está fazendo contato com associações de catadores de lixo para que estes façam a separação dos diversos tipos de reciclável .

Esse tipo de coleta é bem diferente da que foi implantada em Barcelona , Espanha, também pela ocasião dos Jogos Olímpicos de 1992, exemplo mundial de inovação e sustentabilidade. O princípio básico dessa coleta é a sucção dos sacos de lixos depositados em coletores, com conexão subterrânea, que são levados pelos tubos embaixo da terra para os reservatórios fora da cidade. As lixeiras, que podem ser públicas ou privadas, já possuem separação para o lixo orgânico, reciclável e caseiro. Esse processo retira os caminhões de lixo das ruas, diminuindo a emissão de gás carbônico na atmosfera, além de não deixar o lixo visível e evitar doenças.

O projeto de Barcelona é mais sustentável do que o de Portimão por que não deixa os dejetos concentrados no mesmo lugar, eles vão diretamente para a central de recolhimento que dá direcionamento, seja para compostagem, reciclagem, ou aterros sanitários. O sistema português, como o carioca, demora para que o lixo seja recolhido.

Valor do aluguel tem variação recorde no RJ

Taise Parente

A perspectiva de uma Copa do mundo e uma Olimpíada nos próximos quatro anos no Rio de Janeiro está tornando difícil a compra de um apartamento. Os preços dos imóveis acompanham o interesse pela cidade. De abril de 2010 ao mesmo mês de 2011, o m2 em Ipanema subiu 73,5%, a taxa mais alta do Rio, seguida de Vila Isabel, com 72%. 


Uma pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência mostra que, embora o número total de imóveis residenciais tenha crescido 24% no Brasil entre 2000 e 2010, o número de unidades vagas permaneceu praticamente constante. Isso porque os imóveis alugados já representam 18% do total de unidades, o que significa um crescimento de 5% na última década. No entanto, dados do SECOVI-RJ mostram que o brasileiro ainda não explora a opção do aluguel como poderia. Os 18% ainda estão muito aquém aos dados de outros países, como a Alemanha, que tem 57% dos imóveis alugados, ou a Holanda com 47%. A Pesquisa Anual por Amostra de Domicílio (PNAD) realizada pelo IBGE mostra que mesmo não chegando à média mundial (33%) o número de apartamentos alugados no Brasil cresceu consideravelmente. Se em 2009 os aluguéis chegavam a 9.940 unidades, em 2011 esse número subiu para 10.585. 

Apesar de a oferta ter crescido, ainda ficou abaixo da procura, o que levaria ao alto preço dos imóveis. Segundo uma pesquisa do SECOVI-RJ, o valor médio de um apartamento de um quarto na Zona Sul da cidade já chega a mais de R$ 3 mil reais, em levantamento de agosto de 2012. Já o de três quartos pode alcançar R$ 9 mil reais, levando o Rio de Janeiro a ocupar o 12º lugar no ranking dos aluguéis mais caros do mundo, segundo levantamento feito pela empresa de RH ECA International. O primeiro lugar ficou com Hong Kong. Com esses preços, a Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE aponta que os gastos com aluguel já representam 12% da renda familiar brasileira. 

Ao mesmo tempo em que o aluguel começa a pesar nas despesas familiares, o brasileiro está descobrindo que ele também pode ser um negócio rentável. De acordo com o Panorama do Mercado Imobiliário 2011, realizado pelo SECOVI-RJ, a rentabilidade anual de um imóvel residencial alugado no Centro pode chegar a 90,2%. Já um imóvel comercial no mesmo bairro tem rentabilidade de 54,7%. Para quem pode e quer investir, o aluguel já está se tornando uma alternativa de renda que ultrapassa índices como o da poupança

Nem só de esporte se faz uma Olimpíada

Bruna Scot

Engana-se quem pensa que os investimentos voltados para as Olimpíadas beneficiam apenas o setor de transportes e os complexos esportivos da cidade. No embalo das obras, o Rio de Janeiro ganha três museus com diferentes propostas, e se adapta ao modelo internacional de eventos culturais.

Dois dos novos empreendimentos estão sendo construídos na região portuária e fazem parte do projeto Porto Maravilha. Com inauguração prevista para novembro deste ano, o Museu de Arte do Rio terá como sede o palacete Dom João VI, edifício tombado, na Praça Mauá. O acervo será composto por peças de coleções públicas e privadas, como as salvas do incêndio da casa do marchand Jean Boghici.

O MAR estará ligado ao prédio vizinho – construção de 1940, que abrigava uma rodoviária – por uma passarela de metal. Lá, encontra-se a Escola do Olhar, que tem como objetivo aproximar jovens estudantes do estudo das artes e aprimorar a percepção imagética deles. O museu ainda conta com um restaurante no terraço e um bistrô no térreo.

Projeto do Museu do Amanhã, no Pier Mauá
Foto: Divulgação
Já o Museu do Amanhã, projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, tem outra proposta. Lá, os visitantes vão aprender mais sobre ciência e tecnologia através da interatividade. Com umaproposta sustentável, o museu vai contar com a reutilização de água das chuvase da própria Baía de Guanabara, além de o telhado ser preparado para captarenergia do Sol. Tudo isso no  Pier Mauá,numa construção que avança pelo mar.

A Zona Sul da cidade também será agraciada com um dos novos centros culturais. A Avenida Atlântica, em Copacabana, será o novo endereço do Museu da Imagem e do Som, antes localizado na Praça XV. Com fachada em estilo contemporâneo, o novo MIS abrigará acervo de música, cinema e teatro. Fugindo dos padrões internacionais, ao invés do lugar para um café, o MIS contará com um bar em pleno calçadão.

Esvaziamento político x Abundância cultural

A construção dos museus segue uma tendência do Rio de Janeiro, que se intensificou na década de 1960. Com a construção de Brasília, a cidade perdeu o status de capital e todo o glamour e investimentos que a envolviam. A cura para o “orgulho ferido” se deu através da construção e revitalização de museus e centros culturais.

O Museu da Imagem e do Som, por exemplo, foi construído em 1965, por iniciativa do então governador Sérgio Lacerda. Reunir em um só lugar o acervo musical do Rio se mostrou como uma boa forma de exaltar o lado cultural da cidade e reafirmar o valor que tinha.

Mas a primeira grande onda cultural, uma das mais importantes da cidade, aconteceu com a chegada da família real portuguesa, em 1808. Dom João VI foi o responsável pela fundação do Banco do Brasil e construção do prédio que hoje abriga o Centro Cultural Banco do Brasil, do Jardim Botânico, e de empreendimentos que hoje são preservados, como o Museu Nacional  palacete onde viveu D. Pedro I.

Em nome das Olimpíadas moradores perdem casas

Taise Parente

Foto: Rio 2016
Os moradores da Vila Autódromo, que vão ser reassentados para a construção do Parque Olímpico de 2016, entregaram um documento ao governo com propostas que tornariam a remoção da comunidade desnecessária. O plano, que foi feito com a ajuda de especialistas de universidades, ressalta o direito à moradia e propõe urbanizar e integrar a vila à cidade e está dividido em quatro partes: habitação; saneamento, infraestrutura e meio ambiente; serviços públicos; e desenvolvimento cultural e comunitário. 

A prefeitura, no entanto, se mantém firme na decisão de retirar a comunidade do local. O Secretário de Habitação do Município do Rio de Janeiro, Jorge Bittar, considera impossível urbanizar a área. O argumento utilizado para a ação é que a remoção faz parte do Plano de Legado Urbano e Ambiental para a ampliação das Avenidas Abelardo Bueno e Salvador Allende.

Ao todo são cerca de 3.500 famílias de seis comunidades das Zonas Norte e Oeste que vão ser reassentadas em nome das Olimpíadas de 2016. O governo afirma que as remoções seriam uma exigência do Comitê Olímpico Internacional e que, no caso da Vila Autódromo, seria também uma necessidade para garantir a criação de uma área livre de proteção junto ao perímetro do Autódromo e da Lagoa de Jacarepaguá.

A prefeitura já assegurou que nenhuma família deixa sua casa sem um acordo, que contemplaria os moradores com uma indenização ou o recebimento de uma nova moradia construída pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Já os moradores alegam que a retirada das famílias da área marginal da Lagoa de Jacarepaguá entra em conflito com um decreto de 1998, assinado pela antiga Secretaria da Habitação e Assuntos Fundiários do Rio, garantindo uma concessão para uso da terra por 99 anos. A comunidade também foi considerada Área de Especial Interesse Social, reforçado pelo plano dos moradores.

A retirada das 450 famílias da Vila Autódromo não estava prevista na proposta original do escritório vencedor do concurso para o projeto de construção do parque olímpico. Nele, imagina-se a remoção de apenas 100 famílias. Então, porque retirá-los do local? O argumento final da Prefeitura é o de que a Vila constitui uma favela e que, portanto, está entre as 115 que devem ser removidas para diminuir o número de comunidades no Rio de Janeiro em 3,5%.

O plano dos moradores tenta comprovar que, para além do direito à moradia, é a existência da comunidade como condizente com a preservação ambiental e a construção do parque olímpico. E o melhor, enquanto o plano alternativo está orçado em R$ 13 milhões, o da Prefeitura custa R$ 38 milhões. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que encaminharia a proposta às secretarias competentes, mas que nada seria feito antes dos 45 dias de período eleitoral, para que não haja uso político da situação.

Vila Olímpica do Rio 2016: Aterro ou solução

Raffaela Cardoso

Projeção de como será a Vila Olímpica na Barra da Tijuca




Uma das grandes dúvidas sobre as Olímpiadas do Rio 2016 é o legado e os benefícios deixados à cidade. A premissa da Prefeitura para a Olimpíada é que os Jogos devem servir à cidade, e não a cidade aos Jogos. Em algumas cidades sedes das Olímpiadas, passadas as mega construções, o que era para ser um legado acabou se tornando imensos elefantes brancos. Como nos casos de Atenas e Pequim, que os gastos ultrapassaram o previsto de investimentos e o que encontra-se nessas cidades hoje são grandes construções que só são utilizadas para visitações, e sem se tornar um benefício para população. O Rio teve sua primeira experiência como sede de grandes eventos esportivos quando recepcionou os jogos Pan Americanos de 2007. Apesar do investimento de R$3,5 bilhões, nem tudo ocorreu como esperado. A começar pelo orçamento, iniciamente previsto para R$ 400 milhões.Um exemplo de legado que se tornou um problema foi a Vila do Pan. Construída na Barra da Tijuca para Construída para abrigar os atletas que participaram dos Jogos Pan-americanos, em 2007, a Vila do Pan está, literalmente, afundando. Surgiram crateras no terreno em volta dos prédios, calçadas e ruas estão cedendo e o asfalto, encontra-se totalmente desnivelado. Por Os seguidos problemas de infraestrutura na Vila do Pan-americano, na Barra da Tijuca, que colocar m em risco , inclusive, a vida dos moradores, é alvo de uma ação da levou a Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) a entrar com ação, na 4ª Vara Empresarial, contra a Agenco Engenharia e Construções S.A, responsável pelo empreendimento. 
Segundo a prefeitura, as obras para conter o afundamento do solo em três trechos da Avenida Besserman Viana, a Via 3, terão um custo estimado em R$ 4,2 milhões. As intervenções são realizadas em via pública como parte de um acordo entre a gestão anterior e a Agenco. Segundo a Fundação Geo-Rio, o chão afundou porque os jardins, entre os prédios e a rua, não receberam o mesmo tratamento da via, na qual foram usadas estacas. Com isso, o aterro foi afundando e pressionando, para os lados, as estacas da rua, que não aguentaram a pressão. A técnica aplicada no local usa argamassa de alta resistência e prevê novo aterramento.
Mas não só a vila se tornou um problema, o Velódromo está abandonado e terá de ser reformulada para atender as exigências do COI, assim como o Complexo Aquático Maria Lenk.

As obras de terraplanagem para a construção da Vila Olímpica que irá hospedar os atletas e comissões técnicas para os Jogos Olímpicos de 2016 já começou. Serão 34 edifícios de 12 andares e abrigará os atletas em 2.448 apartamentos de XX metros quadrados, divididos em três e quatro quartos com varanda, sala de estar, jantar e cozinha. A construção da vila dos atletas será localizada na Avenida Salvador Allende, perto do Riocentro, em um terreno de aproximadamente 1 milhão m², e vai permitir que 73% dos participantes dos Jogos fiquem hospedados a menos de 25 minutos das suas instalações de treinamento e competição.

O trabalho será obra da construtora Carvalho Hosken, que assinou o contrato com a prefeitura do Rio de Janeiro para a execução do empreendimento. Com financiamento para a construção feito pelo governo federal, e precisará atender os requisitos estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e as expectativas das delegações.

Assim como aconteceu com a Vila do Pan, os apartamentos também serão vendidos depois dos jogos. A prefeitura estima -se cerca de gerar cerca de R$ 2,5 bilhões em vendas. Os prédios serão divididos em condomínios e terão fachadas diferentes e áreas de lazer separadas.
De acordo com Carlos Nuzman, presidente do Comitê Rio 2016, os membros do COI, que conheceram o projeto, acreditaram que a Vila Olímpica Rio 2016 será a mais bonita da história dos Jogos.

Governo do Rio pretende privatizar o Maracanã

Otávio Rodrigues

No início de 2012 o governo do Rio de Janeiro confirmou em seu Diário Oficial que um edital de Manifestação de Interesse da Iniciativa Privada (MIP) seria lançado para começar o processo de concessão do Maracanã, que receberá a final da Copa do Mundo de 2014 e será palco dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. Com a intenção de fazer uma parceria público-privada até o fim do ano, o governo comunicou que pretende lançar o edital de licitação ainda neste mês de outubro.

A empresa IMX, do empresário Eike Batista, foi a única que apresentou os estudos de viabilidade econômica. Os dados levantados pela IMX já foram analisados pela Secretaria da Casa Civil, aprovados pelo Comitê de Parcerias Público-Privadas e serão usados como o estudo de modelo na abertura do edital. Além da empresa de Eike Batista, os clubes cariocas Flamengo e Fluminense também estão interessados e pretendem fazer uma parceria para administrar o novo Maracanã.

O Estádio Mário Filho passa por sua terceira grande reforma em menos de 15 anos. De acordo com o site apublica.org, somando as últimas grandes obras que o antigo maior estádio do mundo passou, foram investidos R$ 106 milhões para receber o Mundial de Clubes de 2000 e R$ 304 milhões para atender as exigências do Pan-Americano de 2007, que já deveria adaptar o estádio a possíveis exigências da FIFA para a Copa de 2014. Além da atual reforma para deixar o Maracanã pronto para receber a maior competição de futebol no mundo, de acordo com o último balanço do Governo Federal, R$ 808 milhões foram gastos até o momento. Portanto, cerca de R$ 1,442 bilhão já foram investidos. Para completar, algumas exigências feitas pelo Comitê Olímpico Internacional ainda não serão atendidas para o novo Maracanã receber os Jogos em 2016. Dessa forma, existe o risco do estádio ser fechado novamente para passar por novas reformas.

Diante das seguidas reformas do Maracanã com a utilização do dinheiro público, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas tem questionado a intenção do governo de entregar o Estádio nas mãos de um único dono. O líder do comitê, Gustavo Mehl, abriu um debate no dia 25 de setembro na UERJ para propor um modelo de gestão alternativo sob gestão pública. Para ele, o Maracanã que era conhecido, já foi destruído. Segundo Mehl, a maior luta no momento é impedir a privatização de um dos templos sagrados do futebol brasileiro. Já o pesquisador da IPPUR/UFRJ, Erick Omeda acredita que o caráter popular que concebeu o Maracanã desde sua construção não poderia ser desfeito depois de tanta adoração e investimento dos torcedores. Dias antes do debate, junto com a Frente Nacional dos Torcedores, o Comitê Popular reuniu 50 pessoas que fizeram um protesto em frente à casa do governador Sérgio Cabral.

Em contrapartida a opinião do pesquisador Erick Omeda e o líder do Comitê Popular Gustavo Mehl, o economista Rodrigo Constantino acredita que todo o dinheiro público investido não tem como trazer um retorno. Segundo ele, a medida de entregar o Maracanã a uma empresa privada está em sintonia com a do governo, já que dessa forma, maiores gastos seriam gastos e não comprometeriam ainda mais os cofres públicos.

Investimento de R$1 bilhão não garante medalhas

Mayra Nolasco

O PlanoBrasil Medalhas 2016, nova estratégia de investimento ao esporte para que o Brasil alcance melhores posições no quadro de medalhas dos jogos olímpicos, lançado em setembro, é um aprimoramento do já existente Bolsa Atleta e prevê recursos de R$1 bilhão no próximo ciclo olímpico, no período de 2013 a 2016. Do total, dois terços do investimento virão do Orçamento Geral da União, enquanto o restante será responsabilidade de empresas estatais. Considerando o investimento recorde de R$2 bilhões feito para a Olimpíada de Londres, o custo atual não surpreende e não dá garantia de melhores resultados para o país que conquistou somente três medalhas de ouro nos últimos jogos.

O programa Bolsa Atleta, do Ministério do Esporte, dá prioridade atualmente aos atletas olímpicos com potencial para representar o Brasil. O auxílio na categoria Olímpico/Paralímpico chega ao valor mensal de R$3 mil. No Plano Brasil Medalha, a ajuda ao atleta pode chegar, com o no Bolsa Pódio, a R$15 mil mensais.O técnico agora também poderá ganhar uma bolsa de até R$10 mil, além do apoio em equipamento esportivo, de até R$20 mil, e de equipe multidisciplinar (médicos), de até R$5 mil mensais por profissional.

Com o objetivo de colocar o país entre os dez primeiros no ranking de medalhas olímpicas e entre os cinco do ranking paralímpico, o plano enfatiza modalidades que já renderam medalhas, dividindo o investimento de apoio ao atleta com os centros de treinamento. O último incentivo dado ao esporte, nas Olimpíadas de Londres, alcançou o dobro da marca de investimento realizado hoje pelo governo e gerou grande expectativa quanto ao resultado brasileiro.

Dos jogos de Pequim, em 2008, para os jogos de Londres, o Time Brasil conquistou apenas duas medalhas a mais no quadro geral. O número de medalhas de ouro foi o mesmo, somente três. Após a Olimpíada, alguns atletas criticaram a falta de estrutura e apoio do país. A judoca Sarah Menezes, que trouxe um dos ouros para o Brasil, reclamou da falta de um local apropriado de treino em sua cidade e pediu ao ministro Aldo Rebelo mais apoio. Já o atleta Diogo Silva, esperança de medalhas no taekwondo, revelou que nunca recebeu suporte do governo para ter um treinamento de ciclo olímpico. Diogo é patrocinado pela Petrobras e, mesmo tendo participado de duas olimpíadas, diz nunca ter conseguido a Bolsa Atleta. Para ele, o processo é muito burocrático e injusto.

Tem muito direcionamento político. Quem é amigo de algum político consegue a bolsa.É só checar a lista de quem recebe a bolsa. Tem gente que não está nem entre os 10 melhores do Brasil e está lá – disse Diogo.

Em relação ao alto custo das obras urbanas do Rio de Janeiro, o investimento do governo nos esportes, principal foco dos jogos de 2016, é baixo. Só o projeto do veículo leve sobre trilhos, o VLT, por exemplo, vai custar R$1,1 bilhão. Acreditando no aprimoramento do incentivo aos atletas, a presidente Dilma Rousseff afirma que o Plano Brasil Medalhas é o início do processo quemobilizará o Brasil, mesmo em meio a criticas. Para Dilma, a nova estratégia de investimento representa um salto que levará o país à potência esportiva.

Após o lançamento do plano esportivo, o próximo passo é a entrega do projeto e do investimento pelas confederações e entes públicos ao Ministério do Esporte, em novembro. Entre dezembro deste ano e janeiro de 2013, estão programadas a formalização de convênio com entes públicos e as inscrições dos atletas para o auxílio olímpico. Para 2016, são esperado 10.500 atletas no Brasil.



Região do Maracanã passa por supervalorização

Babi Costa

As áreas em volta do Maracanã e dos polos que abrigarão as Olímpiadas de 2016 tendem a sofrer uma supervalorização imobiliária. Essas regiões ultrapassarão a porcentagem do crescimento do mercado de imóveis do Rio de Janeiro, que teve um aumento no preço de até 700% nos últimos dez anos, segundo o Sindicato de Habitação (Secovi-Rio). Os domicílios na Tijuca cresceram de 56.980 mil, no censo do IBGE de 2000, para 67.183 mil, em 2010, mas para o economista Luiz Azevedo, professor da PUC-Rio, esse número vai crescer muito mais até 2016.
Foto: SMO/ Divulgação

Um dos fatores que levam a elevação nos preços de imóveis no bairro da Tijuca é o projeto de urbanização dos arredores do estádio Mário Filho, orçadas em quase R$ 110 milhões, segundo a Secretária Municipal de Obras (SMO). Entre as melhorias promovidas pelo projeto está a construção de duas passarelas sobre as linhas do trem e do metrô, que visa facilitar a chegada dos pedestres até o Maracanã.

Azevedo acredita que a valorização da área se deve a um conjunto de fatores. Porém a chegada dos grandes eventos foi o ponto principal para o crescimento da exploração imobiliária no entorno do estádio.

– Os grandes eventos impulsionam não só o mercado imobiliário, mas quase todos os ramos da economia brasileira. A área do Maracanã é uma mina de ouro, além de sediar as Olímpiadas, lá vai haver a final da Copa de 2014. Mas há outros fatores que influenciam no aumento dos preços, como por exemplo, a instalação das UPP’s, porque a segurança muda tudo. Teve também o aumento do preço da mão de obra – explicou Azevedo.

Apesar de acreditar no crescimento da valorização da região do estádio Mário Filho, o economista prevê que os preços vão aumentar até um limite, e logo depois haverá uma estagnação dos valores. Segundo Azevedo, se os preços continuassem crescendo na velocidade atual não haveria público consumidor.

– Os custos de moradia no Rio de Janeiro em geral estão absurdos. O Rio se tornou uma das cidades mais caras do mundo. A valorização foi grande mas chegou quase ao seu teto, a tendência agora é o valor não aumentar mais, e quem sabe daqui há uns anos até diminuir. O bolso do carioca não consegue suprir tanta despesa com moradia – contou ele.

Rio pode receber mais 160 km de ciclovia até 2016

Leandro Garrido

Na busca por alternativas para o movimentado trânsito da cidade, a Prefeitura do Rio de Janeiro pretende estimular o uso de bicicletas não só com um viés turístico, mas também como meio de transporte. No último dia 21, foi lançado o primeiro mapa cicloviário carioca, que indica o traçado de ciclovias em diversos bairros cariocas.


Novas rotas para ciclistas (Foto: Divulgação)

Inspirada em Londres, que viu o uso de bicicletas dobrar desde que a nova política de ciclovias foi implementada, em 2010, a medida busca incentivar um novo hábito de locomoção no Rio e criar uma alternativa para os constantes congestionamentos da cidade. Até 2016, ano das Olimpíadas, a prefeitura tem como meta  sair dos 290 km de ciclovia atuais e chegar a 450 km, superando até mesmo Amsterdã, a 'capital' ciclística, com seus 400 km            

Além do mapa e das novas ciclovias, a Prefeitura também pretende ampliar o Bike Rio, que atualmente conta com 580 bicicletas espalhadas por 58 pontos na capital e já alcançou a marca de 1 milhão de viagens. O atual sistema já enfrenta problemas para atender à crescente demanda pelo serviço e deve receber novas estações até o fim de 2013.

Apesar de diversas ações e da vontade de incluir as bicicletas na rotina carioca, muitos pontos da cidade não apresentam estrutura suficiente para comportar um sistema de ciclismo, principalmente no que se diz respeito à sinalização. O movimento Bicletada Rio chama a atenção para a imprudência e falta de respeito dos motoristas com os ciclistas, que acaba resultando em acidentes de trânsito. Como forma de tentar prevenir novos casos, o movimento Conviva mantém em seu site informações a respeito de como se locomover com segurança nas ruas das grandes cidades.
           
O candidato a vereador Professor Washington Reis atenta para outro problema comum do Rio de Janeiro: a falta de bicicletários. Segundo ele, o anúncio da prefeitura em ampliar as ciclovias é bem vindo, contanto que a cidade esteja apta para comportar a quantidade de ciclistas que é esperado na utilização da via. Para o também candidato a vereador Carlos Pedala, que baseia toda sua candidatura no apoio ao ciclismo, as bicicletas devem fazer parte do cotidiano da cidade. Ele reforça o argumento de que é um meio de transporte barato, ecologicamente correto e democrático.

Preço de imóveis no Rio bate recorde nacional

Foto: ABEOC Brasil

Elena Cruz


A caminho das Olimpíadas, o Rio vem apostando em diversos setores, entre eles o mercado imobiliário. O chamado já chamado boom imobiliário carioca assusta aos compradores que têm o desejo de investir em uma propriedade. Se para o governo a expansão desse mercado é vista como positiva, para os moradores da cidade é uma situação abusiva, um chamariz para os milionários estrangeiros e uma dificuldade para os cariocas da gema.

Uma pesquisa feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em 2011, constatou que o imóvel no Rio é o mais valorizado do país. Desde 2008 essa valorização já atingiu 181,6%. De fato, a cidade vem cada vez mais atraindo olhares do mundo inteiro graças a Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016, e outros atrativos como o Cristo Redentor na lista das sete maravilhas do mundo e a Rio+20. Sim, o Rio de Janeiro está “na moda”, mas o carioca não.

Para o prefeito do Rio Eduardo Paes, esse incentivo é bom para a cidade que terá varias áreas valorizadas, como subúrbio e zona norte. Para ele, as pessoas irão redescobrir estes lugares. Seu otimismo do político não é compartilhado por todos. Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, acredita que em 2016 o mercado carioca poderá chegar a duas situações: atingir a valores nunca vistos em imóveis antes no país ou viver o bust, a crise amarga, que países como Estados Unidos e Espanha conhecem bem.

De acordo com o Sindicato da Habitação do Rio (SecoviRio) estes investimentos estão sendo percebidos em bairros como Barra da Tijuca, Copacabana e na zona portuária, seus valores podem chegar a dobrar. Os únicos bairros da zona norte que também vêm sendo alvo de investimentos do mercado imobiliário são Deodoro e Maracanã, onde acontecerão algumas competições.

O legado deixado para o Rio após 2016

Ligia Lopes

Há grandes questionamentos quanto ao legado que os jogos olímpicos vão deixar para a cidade do Rio de Janeiro. A capital escolhida como sede das Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016 promete investimentos na infraestrutura da cidade, turismo e esporte, o que deve alavancar a economia.

Quando foi escolhida cidade-sede, em 2009, a cidade era a que tinha o maior número de instalações esportivas prontas: operantes (47%) ou temporárias (25%). Grande parte, por conta dos jogos Pan e Parapan-americanos de 2007, dos quais o Rio de Janeiro também foi sede. Dez novas instalações de competição ainda serão construídas. Em relação à infraestrutura, o projeto esportivo mais significativo para o Rio 2016 são os quatro halls do Centro Olímpico de Treinamento (COT), além do Parque Radical em Deodoro, que vai receber as instalações de ciclismo e canoagem e, após os jogos, será um centro de esportes radicais, segundo o comitê olímpico.

Já na candidatura do Rio para sediar o evento, em 2007, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pediu à Secretaria Municipal de Urbanismo que coordenasse a proposta de legado urbano para a cidade e, em parceria com o Comitê Especial de Legado Urbano (CELU), produziu o “Plano de Legado Urbano e Ambiental Rio 2016” (foto).

O documento foi concluído em 2008 e está dividido em um Plano Macro e Planos Locais. Prevê intervenções públicas que melhorem o espaço urbano em diferentes áreas, como transportes, meio ambiente, habitação, reurbanização e desenvolvimento social. Seu objetivo é criar um legado para o Rio de Janeiro não só durante os jogos. O documento atende primordialmente áreas como Barra da Tijuca, Deodoro, Engenho de Dentro, Maracanã, Sambódromo e Zona Portuária.

A economia do país também é uma aposta do governo. O secretário executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, espera que o retorno econômico para o país seja “gigantesco”. Ele afirma que o governo está montando infraestruturas que poderão alavancar o desenvolvimento do país, se referindo à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016.

Além do legado físico, o secretário destacou que sediar esses eventos faz com que o Brasil crie um “legado imaterial”, como investimentos em segurança, saúde e esporte, que vão melhorar as condições de vida da população e a situação do esporte no país.

– As deficiências do nosso esporte de base se referem, sobretudo, às deficiências do esporte no sistema educacional brasileiro – completou o secretário em coletiva de imprensa do Ministério do Esporte em Londres.


Rio contra o doping

Camila Chahon

Fonte: Terra 
Os Jogos de Olímpicos de Londres ganharam o maior laboratório antidoping da história das olimpíadas. A empresa farmacêutica GlaxoSmithKline PLC, que patrocinou o laboratório de XXX, tamanho equivalente a de sete quadras de tênis, investiu cerca de US$ 31 milhões. Nele, mais de mil pessoas trabalharam em turnos de maneira que exames fossem feitos durantes 24 horas.

O Rio de Janeiro, próxima cidade a sediar os jogos, não tem nenhum laboratório com estrutura suficiente para realizar mais de cinco mil exames antidoping durante as competições. A criação, ano passado, da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), como órgão do Ministério do Esporte, é parte do compromisso assumido durante a candidatura do Rio para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. O único laboratório credenciado pela Agência Mundial Antidoping (Wada, sigla em inglês), o Ladetec, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já passa passar por reformas para ser ampliado e receber novos equipamentos.

Essa modernização do Ladetec não apenas vai ser um legado deixado pelos jogos, mas devolverá a credibilidade tirada. Em maio de 2011, o jogador de vôlei de praia Pedro Soldberg foi pego pelo uso de esteroides e a Federação Internacional de Vôlei o suspendeu. Amostras de urina e sangue foram enviadas para a Alemanha e novos exames foram realizados. O exame não acusou nada, apenas o fato de que Pedro não tinha ingerido nenhuma substância ilegal.

Doping é o uso de qualquer substância que aumente o rendimento oudesempenho do atleta durante as competições. Os atletas que usam qualquer substância ilegal acabam levando certa vantagem em relação aos que não o fazem, por isso é considerado antiético e é proibido no esporte.  Em 1932, o doping começou a ser um problema, mas o controle sobre o consumo destas substâncias ilegais só começou nos Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México.

Com o passar do tempo, o número de atletas pegos no exame antidoping foi diminuindo. Isso mostra que o aumento da fiscalização deixou os atletas mais atentos com as substâncias utilizadas, até mesmo em produtos farmacêuticos. A atleta de salto em distância Maurren Maggi é um exemplo. Depois de uma sessão de depilação definitiva, ela passou um creme que tem em sua composição o clostebol, a primeira droga na lista de proibições. Em entrevista, Maurren disse que não sabia da presença da substância. 

Poder dos vereadores sobre a Olimpíada é pequeno

Mateus Campos

O Rio de Janeiro se prepara para eleger uma nova Câmara dos Vereadores na eleição do dia 7 de Outubro. Dos 1.715 candidatos que disputam as 51 cadeiras da casa, alguns deles procuram se associar à Olimpíada para receber a simpatia dos eleitores. É comum que, durante o horário gratuito na TV ou nos materiais de campanha, eles prometam participação efetiva no processo de realização do evento.

Patricia Amorim (PMDB), presidente do Flamengo e candidata a reeleição no município, diz em seu site oficial que “com a realização dos Jogos de 2016, disputará o próximo mandato com a certeza de que muito trabalho e novas conquistas esportivas marcarão o período”. Já o ex-prefeito e também candidato Cesar Maia (DEM), vai além e afirma que pretende “ajudar a viabilizar as Olimpíadas”.

As atribuições dos vereadores, no entanto, não são tão amplas assim. São deveres do parlamentar fiscalizar o trabalho do Executivo e fazer a ligação entre a população e o poder público. A Câmara também deve propor e aprovar leis de competência municipal. Ou seja: normas que lidam com o sistema tributário e com os serviços públicos, por exemplo.

No caso dos Jogos de 2016, o candidato eleito poderá participar de comissões especiais relacionadas ao evento, como a Comissão Especial para acompanhar a organização e preparativos da Copa 2014 e Jogos Olímpicos 2016, a Comissão Especial dos Corredores Expressos Transcarioca e Transoeste, e também a Comissão Especial das Obras da Transolímpica e seus Efeitos na Cidade.

Esses grupos, fundamentalmente, fiscalizam os rumos das obras e as decisões tomadas pelo Comitê Organizador. A participação dos vereadores durante a última legislatura (2009-2012) mostra que o poder deles já foi limitado. Patrícia Amorim, que participa da Comissão Especial que acompanha a Copa de 2014 e a Olimpíada, não aprovou nenhum especificamente relacionado aos Jogos, embora tenha, aprovado, em 2011, um Projeto de Lei relacionado ao esporte. O projeto rata sobre a especialização dos profissionais que trabalham nas vilas olímpicas (iniciativas que desenvolvem projetos sociais com crianças), centros esportivos, programas e projetos do poder municipal.

Seu colega Carlo Caiado (DEM), presidente da mesma comissão, também não conseguiu muitos êxitos. Nos últimos quatro anos, além de dispor sobre a construção de uma Vila Olímpica da prefeitura, o vereador propôs uma única outra lei que tem ligação com o esporte: a que instituiria o Frescobol como patrimônio imaterial da cidade do Rio.